quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Império ergueu os números de audiência e a vaidade da “Vênus Platinada”



A saga de um nordestino que fez fortuna e hoje é um dos homens mais ricos do país. Nas tramas paralelas, todas aquelas situações que prendem o telespectador desde que as telenovelas viraram “febre nacional”. Entre elas a filha bastarda, a amante que é mantida em segredo, o interesse dos pais em fazer com que os filhos casem com pessoas ricas, ciúmes, vida dupla, comédia e muitos  outros ingredientes que comprovadamente, redeem um bom folhetim.

Império e despretensiosa. Não levanta, pelo menos diretamente, nenhuma bandeira social, nem sai em defesa de nenhuma campanha de conscientização. Porém, esse é um exemplo clássico dos contextos populares que o pernambucano, Aguinaldo Silva, adora explorar. A frente da atual trama das 21h o autor diz que acima das questões sociais, as novelas precisam entreter o público. Nesse quesito sua obra tem cumprido o prometido, a venda de revistas de fofoca e a audiência do horário voltaram a crescer freneticamente. O time de atores é afinado, não se ouve criticas duras sobre suas atuações.  Alexandre Nero que dá vida ao Comendador José Alfredo Medeiros é bem mais novo que o seu personagem, sua caracterização começa cedo lá pelas bandas do PROJAC. O ator é submetido a uma maquiagem transformadora pra se tornar um homem de cinquenta e poucos anos, ele ganha várias rugas e marcas de expressão. Com Caio Blat, que vive o João Pedro,  filho mais velho do comendador, acontece o contrario, ele é bem mais velho que o seu personagem, porém a genética foi muito generosa com ator, e assim, fica "aceitável" ver Alexandre Nero, que tem quase a mesma idade que Caio ser pai dele sem grandes estranhamentos. Mas todas essas permissões são aceitas por um motivo crucial, o convencimento.

O que mede o sucesso de uma obra de  ficção é a capacidade que um autor tem de transformar sua historia em algo que todos, pelos menos por alguns minutos, acreditem ser real. Nisso o texto de Império conseguiu ser coerente. A força da trama central segura o público que tem sido fiel e ascendente. A novela começou marcando 30 pontos no IBOPE e hoje já consegue média geral de 35. Esses números eram tidos como preocupantes, há alguns anos atrás. Porém a crise na teledramaturgia brasileira e o surgimento de  outros meios de se consumir o conteúdo televisivo, fez o que a os números de audiência sofressem algumas alterações. Depois que “Em Família” sua antecessora, massacrou o mais importante espaço de novelas da Rede Globo, chegando a marcar 21 pontos de audiência. A trama de Aguinaldo Silva teve como missão, recuperar a audiência perdida e aumentar repercussão que as novelas do horário, sempre tiveram. Além de cumprir as exigências, a novela vem conseguindo surpreender o público com as tantas reviravoltas que acontecem em pouco mais de 100 capítulos exibidos.

Entre as sacadas de mestre do Aguinaldo está a popularidade se seus personagens. Imaginem vocês que o Comendador, até hoje preserva o seu sotaque nordestino, porém se arrisca a falar várias palavras em inglês com esse mesmo sotaque que é genuinamente brasileiro. Outro ponto importante é a personagem que tem nome de cobra e faz da religião sua grande “mascara”. A problemática Cora, interpretada pela brilhante Drica Moraes,  comete as maldades mais impetuosas que você possa imaginar com seu  terços bizantino em mãos.  Entre os tantos pontos fortes, destaco também a grandeza de uma personagem atrelada a grande atriz que é Lilian Cabral. A união de Lilian com os atos passionais da sua Maria Marta, é algo muito bem construído.
A comédia fica por conta de Paulo Betti, que faz um jornalista de celebridades, único. Téo Pereira é quase uma paixão nacional e critica discretamente os vários colunistas de celebridades que fazem de tudo para conseguir saber todos os detalhes da vida pessoal dos famosos.



O pecado maior de Império está  justamente na ausência  de uma  conscientização social forte. O Brasil é um país que se diverte, se informa e até mesmo se educa frente de um aparelho de televisão. A responsabilidade que esse meio de comunicação tem nessa sociedade desigual e complexa é muito alta. Um produto como a telenovela, que consegue atingir tantas classes sociais e realidades diversas em um país de dimensões continentais como nosso, tem obrigação de mostrar algo que  além de divertir o público, acrescente. Seja por um personagem que sofre preconceitos racistas, ou cai no obscuro mundo das drogas, ou até mesmo um esclarecimento maior de uma doença que pode ser prevenida pela população. Toda e qualquer de serviço social em televisão é válido. Isso é apenas uma singela observação, que não compromete os números reais de sucesso. A  novela segue crescendo em números de audiência e faturamento.  Já é considerada um grande sucesso. O legado para a eternidade será fraco, aposto que poucos vão lembrar de Império no futuro. Mas entre erros e acertos, a novela tem acertado muito mais do que errado, além do texto muito bem amarrado a sintonia com a  direção, fez o próprio autor admitir que a novela está sendo a mais bem produzida da sua carreira. Isso tem agradado o consumidor final, que responde positivamente de diversas formas.

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